Em 2030, mais de 20% da área total da expansão urbana da Região Metropolitana estarão vulneráveis, mostra relatório coordenado pelo INPE e Unicamp
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As mudanças no clima indicam aumento de dias com chuvas intensas e mais frequentes, o que, somando-se ao crescimento projetado da população na Região Metropolitana de São Paulo, que deverá dobrar de tamanho nos próximos 20 anos, especialmente nas periferias, aumentará significativamente os riscos de enchentes, inundações e deslizamentos, e será também maior a ocorrência de lepstopirose e doenças respiratórias. Estudos preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sugerem que, entre 2070 e 2100, uma elevação média na temperatura da região de 2º C a 3º C poderá dobrar o número de dias com chuvas intensas (acima de 10 milímetros) na capital paulista. A previsão é de um aumento no número de dias e noites quentes e correspondente diminuição do número de dias e noites frios.
Esses cenários constam do relatório “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo”, divulgado dia 15 de junho, em São Paulo. O documento foi coordenado pelo Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CST/INPE) e pelo Núcleo de População da Universidade Estadual de Campinas (NEPO/UNICAMP) e contou com a participação de outras instituições de pesquisa do país e apoio da Embaixada do Reino Unido, Rede Clima e Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais.
O relatório se refere a projeções climáticas para os próximos 20 anos e cenários futuros entre 2070 e 2100 para a região. Para isso, os pesquisadores aplicaram um modelo de projeção de mancha urbana associado ao modelo “Hand”, que permitiu identificar as possíveis áreas que seriam ocupadas no futuro e o risco potencial, caso o padrão de uso e ocupação do solo atual se perpetue sem nenhuma alteração e controle. Mais de 20% da área total da expansão urbana da Região Metropolitana de São Paulo em 2030 estarão vulneráveis e poderão eventualmente ser afetados por acidentes naturais provocados pelas chuvas. Aproximadamente 11% dessas novas ocupações poderão ser áreas de risco de deslizamento.
Ocupação do solo - Hoje, cerca de 30% da população da Região Metropolitana, ou seja, 2,7 milhões de pessoas, vivem em comunidades, cortiços e habitações precárias, quase sempre ilegais. São concentrações significativas de áreas de risco de escorregamentos localizadas na Zona Sul (Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira, Cidade Dutra, Jardim Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo). Nessa região estão concentradas mais de 50% das favelas em São Paulo.
Nas demais regiões, as áreas de risco localizam-se na Zona Oeste (Butantã e Jaguaré); na Zona Norte (Perus, Pirituba, Jaraguá, Brasilândia, Freguesia do Ó e Tremembé); e na Zona Leste (Sapopemba, São Mateus, Aricanduva, Vila Formosa, Vila Prudente e Itaquera).
Medidas de adaptação
O relatório aponta medidas de adaptação que as cidades e instituições da Região Metropolitana terão que adotar em busca de soluções para os impactos e perigos que sofrerão. Entre elas estão: maior controle sobre construções em áreas de risco; investimentos em transportes coletivos; proteção dos recursos naturais e criação de áreas de proteção ambiental nas áreas de várzeas de rios (como os parques lineares propostos pela prefeitura de São Paulo e governo do Estado); e investimentos em pesquisas voltadas para a modelagem do clima, quantificação de benefícios decorrentes de medidas de adaptação às mudanças climáticas, entre outras.
É fundamental envolver ainda o terceiro setor na construção de uma política metropolitana para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, com programas de curto, médio e longo prazo e que se concretize em projetos alternativos de uso e ocupação do território. E, além disso, iniciar um processo permanente de avaliação ambiental estratégica e constante monitoramento, que indique meios de desenvolvimento limpo/sustentável para a Região Metropolitana de São Paulo no século XXI. Nesse sentido, o relatório sugere algumas diretrizes:
· Tornar obrigatória a avaliação da dimensão climática nos processos decisórios referentes às políticas públicas;
· Implantar de uma rede de monitoramento climático cobrindo a Região Metropolitana;
· Avaliar os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana, promovendo medidas para redução ou prevenção dos impactos;
· Atrair investimentos para a implantação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e de outros mecanismos internacionais do mercado de carbono;
· Aplicar recursos vinculados destinados à pesquisa científica voltados para a adaptação da sociedade às mudanças do clima.
Principais Cenários de Risco
Enchentes e inundações
Apesar dos investimentos realizados ao longo dos últimos anos, as enchentes continuarão a ocorrer, em razão do crescimento urbano da região e da dinâmica natural das cheias e das grandes intervenções nos cursos d’água (canalização dos córregos) realizadas no passado. Habitações, atividades industriais, comerciais e de serviços público e privado e o sistema de transporte urbano e rodoviário continuarão a ser atingidos.
Enchentes e inundações com alta energia de escoamento
As áreas mais altas na periferia de São Paulo permitem a ocorrência de enchentes de grande volume e velocidade das águas, por conta do forte declive dos terrenos marginais. Enchentes desse tipo podem causar a destruição de edificações e de obras de infraestrutura urbana, danos materiais diversos e colocar em risco a integridade física das pessoas residentes em áreas ribeirinhas.
Enxurradas com alto potencial de arraste
Escoamentos pluviais concentrados ao longo dos cursos d’água ou em vias públicas são responsáveis pela maior parte das mortes durante chuvas intensas na Região Metropolitana. As enxurradas ocorrem tanto nas áreas consolidadas quanto nas áreas de periferia e se caracterizam pelo grande poder de acumulação das águas superficiais e alto poder destrutivo e de arraste.
Alagamentos
Os alagamentos localizados ocorrem de forma generalizada em diversos pontos, principalmente por deficiências do sistema de drenagem urbano. Os alagamentos são geralmente acumulações rasas de lâminas d’água que afetam as vias públicas, causando transtornos para a circulação de pedestres e veículos.
Lixo lançado nos cursos d’água
Cerca de 6 mil residências lançam o lixo diretamente nos cursos d’água na Região Metropolitana, contribuindo para sua obstrução e assoreamento. Além disso, detritos sólidos são carregados pelas enxurradas, captados pela rede hidrográfica e levados para os trechos de menor declive do leito onde são depositados. Esses locais situam-se, em geral, no Rio Tietê.
Escorregamentos de massa em encostas
As áreas de risco de escorregamentos localizam-se principalmente em locais de expansão urbanas mais recentes, especialmente das últimas 30 décadas.
Eventos pluviométricos mais severos
A incidência de chuvas mais intensas e severas – superiores a 100 milímetros – deverá ser maior em algumas regiões com concentração de áreas de risco de escorregamentos e enchentes e inundações, o que aumentará a condição de vulnerabilidade.
Implicações na saúde
O relatório mostra que nos próximos anos poderão ser observados efeitos na saúde provocados pelas mudanças no clima, como os relacionados às alergias, ao aumento da incidência de rinite alérgica e asma e a intensidade e duração dos sintomas por causa da poluição atmosférica. Invernos mais quentes podem resultar em um início mais precoce da estação de pólen de grama ou de outras plantas, aumentando suas concentrações na atmosfera. Partículas provenientes do diesel são outro agravante, pois transportam substâncias capazes de provocar reações alérgicas nos pulmões.
Alterações na temperatura e na umidade do ar podem contribuir para a proliferação de agentes infecciosos, assim como populações de bactérias, fungos e vírus também podem crescer rapidamente com o calor. De forma geral, a mudança climática pode provocar a migração de doenças de clima quente para zonas mais temperadas. Os sistemas de saúde precisarão se readequar para dar conta dessa demanda.
Outros impactos à saúde incluem afogamentos e ferimentos das vítimas ao serem atiradas contra objetos quando levadas pela correnteza e doenças que podem ocorrer devido ao contato com água contaminada (leptospirose, doenças intestinais e hepatite A). A chuva excessiva facilita o acesso de esgotos a céu aberto aos reservatórios de água potável, aumentando a probabilidade da ocorrência de doenças transmitidas pela água. Além disso, manifestações alérgicas e doenças respiratórias podem se espalhar mais facilmente em abrigos lotados.
As mudanças no clima indicam aumento de dias com chuvas intensas e mais frequentes, o que, somando-se ao crescimento projetado da população na Região Metropolitana de São Paulo, que deverá dobrar de tamanho nos próximos 20 anos, especialmente nas periferias, aumentará significativamente os riscos de enchentes, inundações e deslizamentos, e será também maior a ocorrência de lepstopirose e doenças respiratórias. Estudos preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sugerem que, entre 2070 e 2100, uma elevação média na temperatura da região de 2º C a 3º C poderá dobrar o número de dias com chuvas intensas (acima de 10 milímetros) na capital paulista. A previsão é de um aumento no número de dias e noites quentes e correspondente diminuição do número de dias e noites frios.
Esses cenários constam do relatório “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo”, divulgado dia 15 de junho, em São Paulo. O documento foi coordenado pelo Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CST/INPE) e pelo Núcleo de População da Universidade Estadual de Campinas (NEPO/UNICAMP) e contou com a participação de outras instituições de pesquisa do país e apoio da Embaixada do Reino Unido, Rede Clima e Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais.
O relatório se refere a projeções climáticas para os próximos 20 anos e cenários futuros entre 2070 e 2100 para a região. Para isso, os pesquisadores aplicaram um modelo de projeção de mancha urbana associado ao modelo “Hand”, que permitiu identificar as possíveis áreas que seriam ocupadas no futuro e o risco potencial, caso o padrão de uso e ocupação do solo atual se perpetue sem nenhuma alteração e controle. Mais de 20% da área total da expansão urbana da Região Metropolitana de São Paulo em 2030 estarão vulneráveis e poderão eventualmente ser afetados por acidentes naturais provocados pelas chuvas. Aproximadamente 11% dessas novas ocupações poderão ser áreas de risco de deslizamento.
Ocupação do solo - Hoje, cerca de 30% da população da Região Metropolitana, ou seja, 2,7 milhões de pessoas, vivem em comunidades, cortiços e habitações precárias, quase sempre ilegais. São concentrações significativas de áreas de risco de escorregamentos localizadas na Zona Sul (Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira, Cidade Dutra, Jardim Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo). Nessa região estão concentradas mais de 50% das favelas em São Paulo.
Nas demais regiões, as áreas de risco localizam-se na Zona Oeste (Butantã e Jaguaré); na Zona Norte (Perus, Pirituba, Jaraguá, Brasilândia, Freguesia do Ó e Tremembé); e na Zona Leste (Sapopemba, São Mateus, Aricanduva, Vila Formosa, Vila Prudente e Itaquera).
Medidas de adaptação
O relatório aponta medidas de adaptação que as cidades e instituições da Região Metropolitana terão que adotar em busca de soluções para os impactos e perigos que sofrerão. Entre elas estão: maior controle sobre construções em áreas de risco; investimentos em transportes coletivos; proteção dos recursos naturais e criação de áreas de proteção ambiental nas áreas de várzeas de rios (como os parques lineares propostos pela prefeitura de São Paulo e governo do Estado); e investimentos em pesquisas voltadas para a modelagem do clima, quantificação de benefícios decorrentes de medidas de adaptação às mudanças climáticas, entre outras.
É fundamental envolver ainda o terceiro setor na construção de uma política metropolitana para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, com programas de curto, médio e longo prazo e que se concretize em projetos alternativos de uso e ocupação do território. E, além disso, iniciar um processo permanente de avaliação ambiental estratégica e constante monitoramento, que indique meios de desenvolvimento limpo/sustentável para a Região Metropolitana de São Paulo no século XXI. Nesse sentido, o relatório sugere algumas diretrizes:
· Tornar obrigatória a avaliação da dimensão climática nos processos decisórios referentes às políticas públicas;
· Implantar de uma rede de monitoramento climático cobrindo a Região Metropolitana;
· Avaliar os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana, promovendo medidas para redução ou prevenção dos impactos;
· Atrair investimentos para a implantação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e de outros mecanismos internacionais do mercado de carbono;
· Aplicar recursos vinculados destinados à pesquisa científica voltados para a adaptação da sociedade às mudanças do clima.
Principais Cenários de Risco
Enchentes e inundações
Apesar dos investimentos realizados ao longo dos últimos anos, as enchentes continuarão a ocorrer, em razão do crescimento urbano da região e da dinâmica natural das cheias e das grandes intervenções nos cursos d’água (canalização dos córregos) realizadas no passado. Habitações, atividades industriais, comerciais e de serviços público e privado e o sistema de transporte urbano e rodoviário continuarão a ser atingidos.
Enchentes e inundações com alta energia de escoamento
As áreas mais altas na periferia de São Paulo permitem a ocorrência de enchentes de grande volume e velocidade das águas, por conta do forte declive dos terrenos marginais. Enchentes desse tipo podem causar a destruição de edificações e de obras de infraestrutura urbana, danos materiais diversos e colocar em risco a integridade física das pessoas residentes em áreas ribeirinhas.
Enxurradas com alto potencial de arraste
Escoamentos pluviais concentrados ao longo dos cursos d’água ou em vias públicas são responsáveis pela maior parte das mortes durante chuvas intensas na Região Metropolitana. As enxurradas ocorrem tanto nas áreas consolidadas quanto nas áreas de periferia e se caracterizam pelo grande poder de acumulação das águas superficiais e alto poder destrutivo e de arraste.
Alagamentos
Os alagamentos localizados ocorrem de forma generalizada em diversos pontos, principalmente por deficiências do sistema de drenagem urbano. Os alagamentos são geralmente acumulações rasas de lâminas d’água que afetam as vias públicas, causando transtornos para a circulação de pedestres e veículos.
Lixo lançado nos cursos d’água
Cerca de 6 mil residências lançam o lixo diretamente nos cursos d’água na Região Metropolitana, contribuindo para sua obstrução e assoreamento. Além disso, detritos sólidos são carregados pelas enxurradas, captados pela rede hidrográfica e levados para os trechos de menor declive do leito onde são depositados. Esses locais situam-se, em geral, no Rio Tietê.
Escorregamentos de massa em encostas
As áreas de risco de escorregamentos localizam-se principalmente em locais de expansão urbanas mais recentes, especialmente das últimas 30 décadas.
Eventos pluviométricos mais severos
A incidência de chuvas mais intensas e severas – superiores a 100 milímetros – deverá ser maior em algumas regiões com concentração de áreas de risco de escorregamentos e enchentes e inundações, o que aumentará a condição de vulnerabilidade.
Implicações na saúde
O relatório mostra que nos próximos anos poderão ser observados efeitos na saúde provocados pelas mudanças no clima, como os relacionados às alergias, ao aumento da incidência de rinite alérgica e asma e a intensidade e duração dos sintomas por causa da poluição atmosférica. Invernos mais quentes podem resultar em um início mais precoce da estação de pólen de grama ou de outras plantas, aumentando suas concentrações na atmosfera. Partículas provenientes do diesel são outro agravante, pois transportam substâncias capazes de provocar reações alérgicas nos pulmões.
Alterações na temperatura e na umidade do ar podem contribuir para a proliferação de agentes infecciosos, assim como populações de bactérias, fungos e vírus também podem crescer rapidamente com o calor. De forma geral, a mudança climática pode provocar a migração de doenças de clima quente para zonas mais temperadas. Os sistemas de saúde precisarão se readequar para dar conta dessa demanda.
Outros impactos à saúde incluem afogamentos e ferimentos das vítimas ao serem atiradas contra objetos quando levadas pela correnteza e doenças que podem ocorrer devido ao contato com água contaminada (leptospirose, doenças intestinais e hepatite A). A chuva excessiva facilita o acesso de esgotos a céu aberto aos reservatórios de água potável, aumentando a probabilidade da ocorrência de doenças transmitidas pela água. Além disso, manifestações alérgicas e doenças respiratórias podem se espalhar mais facilmente em abrigos lotados.